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O estado falhou!!!!

Por Antonio Carlos

Mais um amanhecer na ensolarada cidade do Rio de Janeiro, pronto para iniciar mais um dia de trabalho, já desfrutando do primeiro café do dia, eis que ligo a tv e me deparo com uma notícia bomba. O Secretário de Administração Penitenciária, sendo preso pela Polícia Federal. Por quê? Algo na esfera privada? Algum engano? Não, nenhum engano e as explicações foram rapidamente dadas pela imprensa. Conversas gravadas afastam suposições e revelam confirmações daquilo que já desconfiávamos. O sistema prisional carioca tem donos e entre eles não está o estado.

Embora nenhum de nós ignore que existem “esquemas” nas prisões Brasil afora e em nosso estado, a revelação das conversas gravadas entre o Secretário e os chefes das principais facções criminosas que dominam o estado nos choca. Elas revelam em detalhes que os “acordos” não se limitam a entrada de celulares, comida, bebida e drogas nos presídios, o que já seria um absurdo. Revelam quem manda de fato nas cadeias, e fora delas também. Os arranjos e acordos revelados entre as facções que dominam o crime organizado no estado e o estado, tem repercussão do lado de fora dos muros dos presídios e a sensação de surpresa com atos de corrupção perdida há algum tempo, volta com força.

A Justiça fez seu papel e decretou a prisão após análise de provas que de tão robustas não deixam margem para dúvidas e serão suficientes para alçar o Secretário de investigado para acusado.

A Polícia Federal fez seu trabalho assim como fazem as tropas policiais do estado, com bravura, heroísmo e competência, acreditando que quando ajudam a colocar criminosos na cadeia, estão contribuindo para restabelecer a ordem e a segurança.

A partir dessa prisão, muita coisa se explica e ainda que saibamos da possibilidade de fatos como esse serem possíveis, é inevitável o desapontamento.
A privação da liberdade é algo duro, mas quando se consegue por meios escusos desfrutar dos mesmos privilégios que do lado de fora, fica um pouco melhor. O Secretário negociava, segundo a investigação, dentre outras coisas, privilégios para os presidiários, que possibilitava a continuidade das práticas delitivas e contribuía dando conselhos e orientações para lucros maiores. É aterrorizante, mas é verdade.

A decisão sobre o aumento ou a diminuição da violência nas ruas, eram ditadas pelos chefes das facções criminosas que dominam o Rio de Janeiro em acordo com o Secretário. Decisões sobre transferências de presos de outros estados para o Rio, eram decisão do tráfico em acordo com o Secretário. Até mesmo a soltura de um preso ao arrepio da Lei e das autoridades do judiciário era decidida pelo crime organizado e pelo Secretário. Fica bastante claro que todas as negociatas, não eram um ato isolado de um Secretário, era o estado do Rio de Janeiro que estava sendo representado por esse cidadão.

Fica claro que o estado falhou e falhou feio ainda que assim não reconheça, e mesmo que ninguém queira assumir a culpa que lhe cabe.

O sentimento de que a situação prisional é irreversível invade os nossos pensamentos e somos tomados pela certeza de que essa situação não vai mudar. Mas não vamos esmorecer e perder a fé no homem! Vamos esperar que o próximo Secretário da pasta, um delegado da Polícia Civil, com curriculum respeitável, possa restabelecer o controle dos presídios e adotar parâmetros mínimos de controle mostrando a força do estado. Vamos acreditar que a cada prisão como essa, as instituições de controle consigam limpar e abrir espaço para pessoas de bem, com bons propósitos, imbuídos de coragem para trabalhar em nome do estado e principalmente, vamos ter fé, talvez só ela possa nos dar o alento de que tanto precisamos.

Antonio Carlos dos Santos, é Secretário de Ordem Pública, Ex-presidente do Detran/RJ, Ex-subsecretário de Estado de Administração e dos Programas Segurança Presente e Lei Seca.

Instagran:  @antoniocarloss.rio