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Tarifas nos EUA: oportunidades e desafios para PMEs Brasileiras

A escalada tarifária promovida recentemente pelos Estados Unidos, sob a nova administração Trump, acendeu um alerta no cenário econômico global — e, para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) brasileiras, ela representa um misto de ameaça e janela de oportunidade.

 

Embora o Brasil tenha sido poupado das tarifas mais agressivas, recebendo uma alíquota mínima de 10% enquanto países como China e União Europeia enfrentam aumentos de até 104%, a relação comercial entre Brasil e EUA permanece assimétrica. Desde 2009, o Brasil registra déficits comerciais consecutivos com os EUA, importando mais do que exporta, o que revela uma dependência estrutural preocupante.

 

Um Cenário de Risco e Potencial

PMEs brasileiras que atuam em setores diretamente ligados ao comércio bilateral — como manufatura, agroindústria, moda, tecnologia, saúde e logística — terão impactos distintos. O aumento de custos com insumos e equipamentos norte-americanos é um dos principais desafios, principalmente para empresas que operam com margens reduzidas e cadeias de suprimento internacionais.

 

Por outro lado, a retração de fornecedores asiáticos e europeus no mercado americano abre espaço para empresas brasileiras oferecerem produtos como aço, alimentos processados, cosméticos e até soluções digitais com maior competitividade, graças à desvalorização do real e à preferência dos EUA por fornecedores regionais menos afetados por tarifas.

 

Análise por Segmento: O que está em jogo?

•Indústria de Transformação: pode perder competitividade nos custos de insumos importados, mas ganha espaço ao exportar componentes industriais substitutivos a fornecedores chineses.

•Agroindústria: sofre com a alta de agroquímicos dos EUA, mas pode se beneficiar da demanda americana por produtos alimentares e commodities.

•Moda e Calçados: enfrenta aumento no custo de matérias-primas importadas, mas tem espaço em nichos premium sustentáveis no mercado americano.

•Tecnologia e Startups: veem elevação nos custos operacionais com provedores americanos, mas ganham oportunidade na exportação de software e serviços digitais.

•Saúde e Cosméticos: sensíveis à importação de equipamentos, mas com alto potencial de crescimento em nichos especializados com apelo natural.

•Construção e Materiais: insumos pressionados por mercado global, mas oportunidades na exportação de acabamentos e rochas ornamentais.

•Logística: ganha protagonismo com o redesenho de cadeias globais, podendo oferecer soluções flexíveis para empresas em adaptação.

 

 

A Relação Brasil–EUA: Entre a ameaça e a interdependência
Apesar das ameaças retóricas de Trump ao bloco dos BRICS e ao Brasil, o relacionamento comercial entre os dois países é mais complementar do que concorrencial. Os EUA são hoje o maior investidor estrangeiro no Brasil, com mais de US$ 350 bilhões em capital, e quase quatro mil empresas americanas operando em território nacional. O setor aeronáutico é um bom exemplo dessa interdependência: o Brasil exporta e importa bilhões em peças e aviões completos dos EUA, formando uma cadeia de valor cruzada que vai além das tarifas.

 

 

O que as PMEs devem fazer agora
Diante do novo cenário protecionista, as PMEs brasileiras precisam agir com inteligência estratégica. Isso inclui:

1.Revisar e diversificar cadeias de suprimentos, buscando fornecedores fora dos EUA ou soluções nacionais.

2.Aproveitar a janela cambial e tarifária para exportar, com foco nos segmentos em que o Brasil é mais competitivo.

3.Investir em certificações e presença internacional, principalmente no mercado norte-americano.

4.Fortalecer alianças com distribuidores, canais de e-commerce e feiras comerciais nos EUA.

5.Adaptar o posicionamento de marca e produto para destacar elementos como sustentabilidade, autenticidade e custo-benefício.

 

O aumento das tarifas norte-americanas é um marco no realinhamento do comércio global. Para as PMEs brasileiras, ele impõe desafios que exigem resiliência e adaptabilidade, mas também traz oportunidades concretas de acesso a mercados e de consolidação internacional. O Brasil, com sua base industrial diversificada, vocação agrícola e talento criativo, tem condições de transformar esse cenário em vantagem — desde que as empresas estejam prontas para agir com visão global e execução local.

 

Felipe Fogaça de Souza é especialista em estratégia de negócios e inovação baseado na Alemanha, com atuação focada em competitividade internacional, crescimento de PMEs e transformação de modelos empresariais em contextos de mudança global.