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Save the Children abre escritório no Brasil

O evento aconteceu nesta quarta-feira, dia (28/2), no Rio de Janeiro e reuniu autoridades do governo federal e integrantes de redes parceiras

Nesta quarta-feira (28), Save the Children, uma das maiores organizações internacionais de direitos das crianças, presente em mais de 120 países, promoveu um evento na Casa da Glória, no Rio de Janeiro, para marcar a inauguração de seu primeiro escritório no Brasil, que terá sede em São Paulo. O lançamento reuniu autoridades do governo federal e representantes das redes parceiras. O principal objetivo da organização é levar a luta por direitos infantis ao topo da agenda nacional e melhorar as vidas impactadas pela violência e pela pobreza no Brasil, o quinto maior país do mundo e o sétimo mais populoso, onde quase metade das crianças se encontram em situação de vulnerabilidade.

Na ocasião, o mediador Jorge Freyre, Diretor Regional de Campanhas e Advocacy da Save the Children, apresentou os participantes do debate. Estiveram presentes Alessandro Tuzza, diretor da Save the Children no Brasil; Mara Carneiro, Coordenadora Geral do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca Ceará); Roberta Eugênio, Secretária Executiva do Ministério da Igualdade Racial; Cláudio Augusto Vieira da Silva, Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e Thayane Freitas, jovem associada ao Cedeca Rio. Depois da apresentação, Alessandro Tuzza assinou com autoridades do governo federal e representantes da organização um compromisso simbólico que marcou o lançamento do primeiro escritório da Save the Children no Brasil. A ação inicial destaca a parceria com a Rede Não Bata, Eduque, do Rio de Janeiro, o Cedeca Ceará e o Cedeca Rio, organizações já apoiadas pela Save the Children no país há mais de 20 anos.

“Obrigada a todas por estarem presentes nesse momento histórico. Temos parceiros maravilhosos aqui no Brasil. Somos uma das organizações mais antigas na defesa dos direitos das crianças, fundada em Londres há mais de cem anos, em 1919, por uma feminista (Eglantyne Jebb), para dar assistência humanitária às crianças depois da Primeira Grande Guerra”, afirmou Victoria Ward, Diretora Regional da Save the Children na América Latina e Regional. Trabalhamos em parceria com a sociedade civil e o governo. Temos objetivo de garantir sobrevivência, proteção e educação para as crianças. Queremos ser parceiros do Brasil na transformação do mundo em um lugar melhor para elas, além de oferecer nosso ponto de vista de especialistas e amplificar vozes dos nossos parceiros e das crianças do país. Estamos interessados em trabalhar em parceria em diversas outras áreas, como na defesa dos direitos raciais, entre outros. Estamos muito felizes por estarmos aqui”. Já Alessandro Tuzza, Diretor Nacional da Save the Children no Brasil, destacou os índices críticos da sociedade brasileira.

“Quase 70 milhões de brasileiros de 18 anos ou mais não concluíram a educação básica e estão fora da escola. Hoje também, cerca de 5 milhões de crianças brasileiras não frequentam a escola. O Brasil, infelizmente, está entre os lugares mais violentos para crianças. O governo brasileiro divulgou na última quinta-feira (22/02) o Censo da Educação Básica, e mostrou que o ensino médio se manteve com os piores índices de repetência e de abandono dos estudos. Milhões de crianças estão expostas à pobreza e violência, e vivem em áreas vulneráveis a riscos climáticos e ambientais. Ao colaborar com parceiros, governos e comunidades locais, buscamos realizar uma transferência de poder àqueles com conhecimento local e experiência prática nas comunidades. Juntos, podemos construir um ambiente mais eficaz para essas crianças, nos assegurando de que elas possam prosperar e alcançar todo o seu potencial”, declarou.

As crianças no Brasil estão crescendo em meio a altos níveis de pobreza e violência, limitando seu acesso a serviços cruciais como saúde, educação e proteção, com o país classificado como o sexto mais violento do mundo, de acordo com dados recentes da ACLED. A jovem Thayane, associada ao Cedeca Rio, destacou a importância da rede parceira do Save the Children na formação e proteção dos jovens.

“Eu conheci o Cedeca através de um projeto que buscava entender quais eram os tipos de violência em determinados territórios do Brasil e identificar o motivo das altas taxas de homicídio nesses locais. Hoje sou associada do Cedeca e participo do coletivo de jovens, que compreende adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos, de diversos territórios do Rio de Janeiro. Um espaço onde somos acolhidos, ouvidos, um espaço de troca. Sempre falamos sobre os desafios do nosso dia a dia. Eu moro na favela Palmeirinha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e um dos nossos principais desafios é ter nosso direito de ir e vir violado a todo momento. Mesmo nas unidades de saúde não nos sentimos seguras. O que peço para vocês é que respeitem os jovens e adolescentes e também que ouçam, porque eles têm muito a dizer”.

O lançamento da Save the Children no Brasil também envolveu uma agenda de atividades nos dias 26 e 27 de fevereiro, a partir de diálogos entre representantes da organização da Suíça, Inglaterra, Panamá, Peru, Paraguai e do Uruguai com organizações locais e parceiras. Em uma ação colaborativa e para que a Save the Children entenda a necessidade de cada parceiro no país, foram realizadas dinâmicas de criação de metodologias de trabalho envolvendo temáticas de fortalecimento, capacidade, visibilidade e financiamento. Na terça-feira (27/02), os grupos realizaram uma visita à Associação Pamen Cheifa, em Jardim Gramacho, e à Rede Não Bata, Eduque, na Praça XI, Centro do Rio de Janeiro.

O adolescente Daniel, da Rede Não Bata, Eduque, em conversa com os representantes da Save the Children na segunda, reforçou a fala de Thayane:

“Precisamos desmembrar o pensamento e estigma de que os adolescentes não são uma propriedade do adulto, não estão abaixo e de que eles sempre estão errados e os adultos, certos, porque tudo o que está acontecendo aqui também é permitido pela escuta às crianças e adolescentes. É muito importante criar lugares para que essa fala seja escutada e garantida. Também é importante dar a disponibilidade para que jovens de diversos corpos estejam em espaços como esse. Assim como nós, adultos também têm a possibilidade de errar e acertar”.

Além dos desafios destacados por Thayane e Daniel, a crise climática exerce forte impacto sobre as crianças brasileiras. Aproximadamente três em cada quatro crianças do país – que somam o impressionante número de 40 milhões de jovens – estão classificadas como vulneráveis à degradação ambiental e às mudanças climáticas, como destacou Mara Carneiro, Mestre e Doutora em Sociologia e Coordenadora Geral da Cedeca Ceará:

“Ainda no campo das infâncias invisibilizadas, o encarceramento de crianças no Brasil diminui, mas nos preocupa o aumento da letalidade e abordagem mais violenta da polícia, precisamos investigar esses dados. As mudanças climáticas também afetam os adolescentes que estão em privação de liberdade. Nos últimos anos, o Brasil viveu grandes desafios, a ultra direita e o conservadorismo prejudicaram importantes debates. Em quatro anos conseguiram destruir anos de democracia brasileira. O país não está propício para implementação dos direitos das crianças. Mas temos uma sociedade combativa e organizada a fim de mantê-los. Somos um país plural. Precisamos abordar os diferentes contextos para elaborar respostas locais para as violações de direitos. Em parceria com Save the Children e a rede Não Bata, Eduque, elaboramos planos para isso. Somente ontem no Estado do Rio de Janeiro, por causa de uma operação, 60 escolas não tiveram aulas e mais de 20 mil crianças não foram para a escola. O Brasil é considerado avançado no mundo na luta pelos direitos das crianças, mas o Estado não consegue chegar a algumas crianças. Queria aproveitar a presença do governo brasileiro nesse momento para iniciar esse diálogo e em parceria com a Save the Children fortalecer a democracia brasileira”.

Roberta Cristina Eugênio dos Santos Silva, Secretária Executiva do Ministério da Igualdade Racial, que trabalha junto à Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, ressaltou a importância de ouvir os jovens para assegurar o futuro desses:

“Precisamos garantir que o tema da igualdade racial seja o tema central nas discussões no Brasil, debatido na saúde, na segurança pública, no Ministério da Fazenda. Assinamos com a Unicef um documento para a garantia de uma infância menos racista. Esse esforço precisa ser articulado com a sociedade civil. Em relação à segurança pública, não podemos pensar nessa infância e adolescência de forma genérica. O genocídio da juventude negra não acontece somente em operações, ainda que sejam situações críticas. Elaboramos o plano Juventude Negra Viva junto ao Ministério da Igualdade Racial exatamente como estamos fazendo aqui nesse evento, ouvindo jovens pelo país. Os jovens falaram sobre como a mobilidade afeta o acesso à cultura, educação, segurança e empregabilidade. ‘A esperança precisa da prática’, é uma frase do Paulo Freire, quando ouvimos vocês precisamos exercitar hoje aquilo que vocês falam, a fim de efetivamente enxergar um futuro em que vocês estejam conosco”.

O Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Cláudio Augusto Vieira da Silva, também esteve presente no evento e destacou os principais desafios:

“Hoje enfrentamos um dilema de estar em um governo que vem depois de dois golpes, um parlamentar e outro eleitoral. Nossa agenda tenta refletir os principais dilemas da infância e juventude no Brasil. Já protegemos mil crianças ameaçadas de morte, mas a demanda é muito maior. A tortura e os maus tratos ameaçam a democracia. Esse ano estamos estabelecendo a parceria com a universidade pública brasileira formando conselheiros de direito e conselheiros tutelares. Vamos chegar em todos os Estados, começamos na segunda-feira (26) no Rio Grande do Norte. O compromisso é fazer isso com coparticipação da sociedade civil, adolescentes e sistema de garantias na gestão e na formação, isso com uma política pública de Estado. No Rio será com a UFRJ. Precisamos retomar os parâmetros dos anos 1980, precisamos muito de vocês, das organizações e redes da sociedade civil, para que possamos alcançar os lugares em que se manifestam as piores formas de pobreza na educação dos jovens. Somos uma das sociedades mais desiguais do mundo, onde a naturalização de determinadas situações com crianças e adolescentes são impressionantes para todos nós. Queria lembrar vocês que as emendas parlamentares abocanharam 40 milhões de reais, que saíram do Ministério da Igualdade Racial e outros. Precisamos reconquistar o que perdemos nos últimos anos. Estamos aqui com esperança e, como dizia Paulo Freire, com objetivo viver pacientemente impaciente e impacientemente paciente”.

Ao passo que o Brasil se prepara para sediar tanto a Cúpula do G20 em 2024 e a COP30 no ano que vem, Save the Children está reivindicando a atenção dos líderes mundiais para assegurar que as crianças tenham cada vez mais voz nas decisões que afetam o seu dia a dia. A organização de direitos das crianças está comprometida a ampliar a voz das crianças, especialmente daquelas pertencentes a comunidades marginalizadas, apoiando-as a ativamente participar na criação de soluções importantes e decisões determinantes estipuladas por líderes globais e locais.

O novo escritório brasileiro da Save the Children dará continuidade às suas colaborações com organizações nacionais para aprimorar o conhecimento local e implementar soluções para as crianças no país. Save the Children está presente em mais de 120 países, trabalhando diariamente para garantir o direito dos jovens à saúde, educação e proteção contra violência, para garantir um futuro melhor às crianças. Asseguramos que suas necessidades sejam atendidas e suas vozes ouvidas.