DESTAQUE DA INTERNET

Home > DESTAQUE DA INTERNET > Já ouviu falar no envenenamento por Ciguatera?

Já ouviu falar no envenenamento por Ciguatera?

Na noite de 6 de maio de 2025, horas depois de jantar peixe em um restaurante de alto padrão em Natal alguns médicos passaram mal e apresentaram sintomas intensos de intoxicação alimentar __ três precisaram de atendimento hospitalar, dois na UTI. Esse evento jogou luz sobre uma das mais sérias formas de envenenamento por peixe.

A confirmação de que se tratava do envenenamento por Ciguatera veio da conjunção do peixe suspeito, denominado Arabaiana no Nordeste (aqui conhecido por Olhete ou Olho-de-boi), com os clássicos sintomas neurológicos; formigamento na boca, lábios, mãos e pés e a irregular inversão de quente e frio.

A maioria dos registros de complicações após a ingestão da carne de peixes marinhos, especialmente as gastrointestinais, advém da contaminação secundária por bactérias devido à má conservação do pescado após sua captura. Ainda assim, se corretamente preparado e cozido não causa nenhuma intoxicação. No entanto, existem peixes marinhos de algumas espécies, principalmente nos trópicos, que podem apresentar-se venenosos e o cozimento não é suficiente para evitar a intoxicação, já que as toxinas envolvidas são termoestáveis (resistentes à desnaturação por aquecimento).

 

O que é Ciguatera?

É o envenenamento provocado pela ingestão da carne de algumas espécies de peixes tropicais que têm seu habitat nos recifes coralinos. Ao comer um peixe envenenado, o homem fecha a cadeia alimentar onde ocorre o acúmulo progressivo da neurotoxina responsável pelo quadro denominado ciguatera.

 

A cadeia começa com o dinoflagelado Gambierdiscus toxicus, que produz uma toxina liposolúvel chamada gambiertoxina. Esses dinoflagelados, que vivem na superfície das algas bentônicas, são comidos pelos peixes herbívoros que se alimentam destas algas.

 

O peixe herbívoro converte a gambiertoxina em ciguatoxina e a acumula em seus tecidos. Por sua vez, os peixes carnívoros se alimentam destes peixes herbívoros e a ciguatoxina é mais uma vez acumulada. Neste processo, a medida em que se sobe na cadeia alimentar, maior é a quantidade de toxina acumulada. Assim, os grandes peixes carnívoros, situados no topo da cadeia, terão maior quantidade acumulada do que os herbívoros. No final desta cadeia está o homem, então exposto à ciguatoxina.

 

Das espécies de peixes implicadas com esse tipo de envenenamento, a maioria possui alto valor comercial para a alimentação humana e constitui a base de muitas industrias pesqueiras e peixarias locais __ mais de 400 espécies em todo o mundo, incluindo badejos, vermelhos, xaréus, pargos, cavalas e bonitos.

 

Normalmente, essas espécies estão livres da contaminação (boas para a alimentação). Porém, em determinadas áreas e épocas do ano, em função da maior proliferação desses dinoflagelados, as mesmas espécies podem tornar-se venenosas e assim permanecer por vários anos, já que a toxina não é eliminada de seus organismos. Desta forma, torna-se difícil prever quando e onde a intoxicação ciguatera irá ocorrer. Apesar da possibilidade de aparecer em todas as regiões tropicais e subtropicais, o que inclui o Norte e Nordeste brasileiros, sua maior e mais frequente incidência se dá junto às ilhas tropicais do Pacífico, Caribe e mares da Índia.

 

 

Prevenção

Como a ciguatera é comum a certas áreas tropicais, informar-se a esse respeito junto à população local, antes de comer qualquer peixe, é bastante recomendável. Ainda assim, como medida extra de precaução, é mais seguro, em uma refeição, comer pequenas porções (menos que 50 gramas) de vários peixes do que uma grande porção (mais de 200 gramas) de um único peixe.

 

Recomenda-se também que as vítimas da ciguatera se abstenham de todo tipo de frutos do mar por pelo menos três a seis meses após a intoxicação, de forma a evitar as possíveis reincidências dos sintomas.