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Dia Mundial do Livro com um toque de moda: dez obras raras a descobrir

 A analista de moda Lívia Gueissaz faz uma curadoria criteriosa de livros menos conhecidos que misturam narrativa, design e profundidade cultural.

Neste Dia Mundial do Livro, (23/4), a moda assume um tom literário. Dos ateliers aos passeios citadinos, a analista de moda Lívia Gueissaz partilha dez títulos pouco conhecidos que exploram o estilo através da emoção, do artesanato e da narrativa cultural — convidando os leitores a descobrirem uma passerelle diferente: a da página.

“Há livros que levo comigo como acessórios,” diz Livia,. “Não só porque são bonitos, mas porque me ensinam a ver.” Neste Dia Mundial do Livro, Gueissaz convida-nos a entrar no seu universo privado de leituras — não preenchido por bestsellers, mas por títulos poéticos, poderosos e frequentemente esquecidos, que moldaram a sua forma de pensar muito mais do que qualquer passerelle.

A estante de Livia é feita de tinta, instinto e inspiração. “A moda é muitas vezes vista como algo visual, efémero ou superficial,” explica. “Mas, nas páginas, torna-se reflexiva — até meditativa. É lá que vou quando quero reconectar-me com o porquê de amar esta indústria.” Dos ateliers de Paris às ruas de Nova Iorque, a sua seleção ilumina capítulos escondidos da história da moda, dando vida a artesãos, rebeldes, visionários e subculturas que nem sempre têm voz.

Um dos livros mais emocionantes da sua lista é Love Brings Love (Rizzoli), uma homenagem ao designer Alber Elbaz. “Chorei ao ler isto,” admite. “Quando 44 designers se juntaram para criar um desfile após a morte do Alber, foi como se toda a indústria parasse para fazer luto e celebrar a criatividade como comunidade.” O livro documenta esse momento extraordinário — uma passerelle como requiem, com esboços e notas de bastidores. “É raro ver a moda com tanta alma,” acrescenta.

Outro favorito é Louis Vuitton Manufactures de Nicholas Foulkes (Assouline), que mergulha na poesia silenciosa do artesanato. “Este não é sobre logótipos,” diz Livia. “É sobre as mãos por trás da marca — pessoas que trabalham há 30 ou 40 anos, cujas assinaturas estão escondidas nos forros das peças. Para mim, essa humildade é o verdadeiro luxo.”

A alfaiataria italiana ganha destaque em Brioni: Tailoring Legends de Olivier Saillard (Assouline), um livro que traça o percurso da marca desde o icónico desfile de 1952 até ao presente. “O que mais me fascinou,” nota Livia, “é que a Brioni vestiu de Cary Grant a Barack Obama — e mesmo assim o livro é íntimo, quase como uma conversa num atelier romano.”

Em Hermès: A Tale Beyond Luxury (Rizzoli), Livia vê a marca como herança e mitologia. “Este livro é quase cinematográfico. Descobrimos que uma única Birkin leva 48 horas a ser feita, por um único artesão, do início ao fim. Ou que a Kelly original era apenas Grace Kelly a esconder a gravidez atrás de uma mala de sela. Adoro quando a história se esconde no design.”

Os olhos de Livia brilham ao falar de Street Unicorns de Robbie Quinn (Abrams). “É pura alegria,” ri. “Não são celebridades — são drag queens de cota de malha, avós de perucas fluorescentes, e pessoas que vivem a moda sem pedir licença. O melhor? Nenhuma foi estilizada. Tudo é feito por elas mesmas. Lembra-me que a moda começa com coragem.”

A tecnologia encontra a cultura em Future Now: Virtual Sneakers to Cutting-Edge Kicks de Elizabeth Semmelhack (Rizzoli), sobre inovação no calçado, de ténis CGI a modelos com atacadores automáticos. “Este livro fez-me perceber: o primeiro ténis virtual foi vendido por 13.000 dólares — e só existe online! É para lá que a moda está a ir, gostemos ou não.”

Livia também dá destaque a movimentos culturais menos conhecidos, como em Dandy Lion: The Black Dandy and Street Style de Shantrelle P. Lewis (Aperture). “Este é muito importante,” diz. “Retrata homens negros a reclamar a elegância — misturando herança africana com alfaiataria clássica europeia. Vestem-se como forma de resistência. É deslumbrante.”

Em The Carhartt WIP Archives (Rizzoli), encontra-se arte inesperada na roupa de trabalho. “Quem diria que um casaco de lona podia tornar-se ícone de rua?” questiona Livia. “O livro está cheio de colaborações secretas com graffiters e DJs underground. É bruto, cru, e ainda assim… moda.”

Black Ivy: A Revolt in Style de Jason Jules (Reel Art Press) é, para ela, uma lição de história em estilo. “Mudou a forma como vejo o preppy,” afirma. “Miles Davis de polo, Malcolm X de mocassins — eles transformaram o estilo Ivy League num símbolo de dignidade e rebeldia. Isso é elegância cultural.”

Por fim, Fashionable Selby de Todd Selby (Abrams) é, segundo Livia, “caótico da melhor forma.” “Não se trata de editoriais polidos. São rabiscos em guardanapos, estúdios em desordem, notas manuscritas. Há até um vestido feito inteiramente de espelhos partidos. Mostra a moda não como perfeição — mas como personalidade.”

Ao refletir, Livia conclui: “Estes livros não são apenas objetos de decoração. São máquinas do tempo, moodboards e manifestos.” Para ela, o estilo não se veste apenas — lê-se, vive-se e recorda-se. “Num mundo que passa tudo a correr, folhear páginas é revolucionário,” diz. “Neste Dia Mundial do Livro, quero lembrar que a moda também é profundidade. Estes livros mostraram-me isso — talvez façam o mesmo por vocês.”